esqueçam amigos onde estávamos quando nos conhecemos

Acho tudo estranho
Acho estranho meu rosto no espelho ao acordar, tudo dia
Acho estranha a nota de cem
Obscena e cobiçada
Parece q não era pra mim
Acho estranho o velório
cemitério, casamento
O asfalto acho terrivelmente estranho
Acho estranha as dores
As entranhas dos bichos ali na mesa
O precipício muito mais ousado e obsceno ainda q a nota
Os hemisfério colado e descolado

em mapas antigos que começam pangeia

e terminam geografia
Acho estranho tudo o q sou e tudo o q não sou
Acho familiar estranho
Estranho a família
As vontades
As milhares de forma q há de castanha
Acho estranha a palavra

não estranho mais meu corpo e nem a terra sob os meus pés

não estranho a solidão

não estranho o estrangeiro

não dublo mais meus pensamentos na insônia

a mulher universal é tida como branca

ou contrário

a branca pressupõe universal e lizante

enganada a si mesma

fingindo-se de otária que se finge, é mesmo otária

a imagem da mulher branca presta-se a diversas falcatruas:

-pretensa hegemonia da beleza

-pretensa ideia de saber o que é ser mulher

-estandarte de cisgeneridade

-estandarte da opressao de classe

-pretenso acúmulo de poder e civilidade

já ouvi muitas desgraças saindo das bocas de , brancas como eu, achavam que o mundo gira pra seus únicos contentamentos

eu, pelo visto e pelo não, provável ainda pautada pelo acúmulo da mascara em mim

as vezes preciso realizar esse autoexorcismo pra chacoalhar a mente

estancar e entender porque até minha bruxaria é pautada na brancura ainda

infelizmente

hoje lesada ponderei

cara de fim de mundo o dia

Sobre 💛

t.s, dramaturga, atriz, fazedora de barulho
Esse post foi publicado em Sem categoria. Bookmark o link permanente.

Uma resposta para esqueçam amigos onde estávamos quando nos conhecemos

  1. rebraite disse:

    Estranho mesmo é a curva que a alça da xícara de café faz
    Entre os dedos, como se tivesse sido criada pra isso,
    E foi, eu penso. E foi.
    E essa fumacinha que insiste, subindo em arabescos barrocos, neo clássicos, pós modernos… atemporais.

Deixe um comentário